quarta-feira, janeiro 02, 2008

Filosofia barata

Um garoto está deitado debaixo de uma árvore em sua chácara. É maio e o céu está estrelado. A noite fresca, a lua cheia e toda a magnífica arrumação que a noite armou conseguiram, quase por milagre, fazer com que se esquecesse de assistir, bestializado, à tevê, à alguma novela que não entende ou às notícias de coisas que não se acertam no jornal.
Começa a pensar na violência e no país. Sabe que algo não está certo, impossível não se deparar com injustiças que sofrem muitos no país do futuro, possível é não se importar.
Assim como o céu, sua mente permanece aberta para buscar alguma idéia. A lua logo daria algum caminho para a solução do problema que pensar.
Porque tantos sofrem e poucos se importam? Qual a origem dos problemas? Será a terra o que falta? Num passado muito distante havia terra para todos, mas o mundo cresceu e, por isso faltou? O homem teve que concentrar mais para si. Sim, a terra é muito boa e quanto mais melhor, coronéis que o digam. O homem então inventou sua mais útil obra: o muro! O que é o muro?
Muro é a contenção, vem com ele um portão e uma chave. Ele isola o externo e o interno, e quem tem a chave pode por ele passar. Mas os homens maus também evoluíram, descobriram que muros não seguram por muito tempo. Inventaram as armas. Suas formas e tipos variam, mas têm, todas, o mesmo propósito. Multidões de homens se uniram e formaram etnias. Para grandes etnias, grandes armas! Armas nucleares.
Existem pessoas que acham muros e armas um absurdo, acham que os homens conseguiriam entender suas diferenças sem eles. Enlouqueceram? Inventaram então sanatórios, todos com muros elevados, com portões e celas trancadas e seguranças armados. Com os sanatórios ninguém que ameaçasse as armas e os muros poderia contagiar os outros.
Porque então não dividir? Está louco – pensa o menino – é como perder minha chácara. Existem os que moram debaixo das pontes, mas milagres não ocorreriam, e as divisões nunca seriam justas, nunca. Já ouviu falar da URSS em algum livro esquecido e já viu Cuba na tevê. Bendita tevê.
Talvez matem por puro preconceito. Existem milhares de etnias e milhares de armas nucleares. As etnias representam-se por características diferentes, e às vezes são necessárias medidas para separá-las. Existe um grande muro erguendo-se para separar duas etnias do norte da América e, provavelmente, terão sujeitos armados perto dele.
É isso! O preconceito separa o homem e cria armas e muros. Mas – pergunta o menino - o que seria o preconceito? Surgiu da união do radical “conceito” com o prefixo “pre”, alguém que cria um conceito antes de conhecer. Abomina agora, o menino, o preconceito. Este criou os muros e as armas. Deve ter sido isso!
Nesse momento, um animal começa a observar o menino que se esclarecia. Animais são mais “humanos” que os homens que possuem muros e armas. Quando os animais possuem muros, deixam de ser animais e viram homens, pois isolam-se em locais chamados zoológicos.
Isso! O preconceito criou os muros, as armas e a violência. Tudo faz sentido – exclama o menino.
O animal admira agora essa pessoa transformada. Então resolve se aproximar e cumprimentar o jovem pelo esclarecimento, chega rapidamente até ele, e cutuca a sua mão, o menino rapidamente joga seus olhos sobre a criatura.
Num lapso de segundo, esse animal olha alto para o menino, pensa na descoberta daquele, que poderia transformar o mundo. Idéias incendeiam-se e se transportam por toda a Terra, idéias não vêem os muros.
- Animal asqueroso! Maldita barata!
E esmaga impiedosamente a criatura.

Lucas Valle Mielke