terça-feira, outubro 21, 2008

                                                                     



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quinta-feira, outubro 09, 2008

Sinais de Idade

Hoje descobri que tenho pêlos no nariz e isso para mim é sinal de idade. Lembro como ficava impressionado com alguns dos mais antigos clientes do meu antigo barbeiro, ao qual meu pai me levava quando criança: eram velhos italianos com enormes chumaços de pêlos saindo das narinas e orelhas, as quais o profissional habilmente aparava com um só golpe de tesoura; também o barbeiro os tinha. Descobri que tenho pêlos no nariz fazendo uma careta na frente do espelho, faz-se um bico apontado lá para baixo, como quem quer beijar o próprio queixo, e empina-se a cabeça para trás: no espelho aparece um pouco das paredes internas das ventas, apesar do espaço pouco que são as minhas pequenas narinas, minúsculas aberturas num nariz tão grande, negras como nunca vi igual. Nelas estavam os pêlos, pêlos curtos e finos, escassos, nem se nota se não fizer essa careta, mas que os há, os há, já me disseram antes, teu nariz tem pêlos, mas eu não acreditava, nunca os tinha visto antes, agora sei que os tenho, e isso para mim é sinal de idade. A idade vem me deixando uma ruga única, de um lado só da testa, acima da sobrancelha, como uma sobrancelha mímica fazendo-se sombra da outra, logo abaixo; além de umas rugas que aparecem muito de quando em vez, em raras ocasiões de um sorriso muito sincero, daqueles que nos fecham os olhos, aí aparecem no canto dos mesmos, as quais eu julgo até que bastante charmosas, mas dessas ninguém nunca falou, foi fazendo caretas no espelho que as descobri sozinho.

Fisicamente a idade nunca me incomodou, nunca senti aquela nostalgia vaidosa dos tempos de criança, mesmo porque a mim parece que a beleza vem com o tempo, talvez seja mais o costume cada vez maior de conviver comigo mesmo, e tenho certeza que passada certa idade pensarei no contrário; mas a idade só me incomoda mesmo na cabeça, por saber que traz cada vez mais responsabilidades e aquele tempo bom de criança, de bagunça, esse passou e não volta mais; incomodei-me mesmo quando, dias atrás, reencontrei um amigo que há muito tempo não via, e no vaivém da conversa, uma conversa daquelas de amigos que não se vêem há tempos, como vais, quem tens feito, e tu, aquele silêncio que indica o momento de uma breve troca de números, por favor telefone, eu preciso beber alguma coisa rapidamente, eu prometo não esqueço, por favor não esqueça, não esqueça, adeus, tudo de bom, lembranças à família, descobri então que tinha ele se casado, e eu me julgo ainda muito jovem para isso. Me disse: "A vida de um indivíduo quando a dois é mais fácil, mas a vida a dois, para um indivíduo, é muito difícil." Perguntei o que significava e ele disse para deixar para lá, trocamos números e fomos cada um para seu canto com a promessa de um dia tomar uma cerveja juntos. Hoje sei que ainda não o fizemos porque uma só cerveja não nos daria e também à sua mulher incomoda a idéia de vê-lo por aí bebendo com amigos.

Foi vê-lo casado que me vez pensar na idade; tomando por referencial a precocidade daquele prematuro matrimônio que o impedia de tomar cervejas com amigos, minha já retardada imaturidade parecia anacrônica, e senti-me perdido no tempo; contudo sei que não estou nem estava velho, eles é que são jovens demais, mas os pêlos não mentem – e sei muito bem que velho não estou, mas só agora, passados vinte e tantos anos de vida, é que vim a tomar consciência de que a idade vem, aos poucos, lenta e ininterruptamente. Ainda demora para me alcançar, por certo, mas que já deixa marcas, já as deixa. Como pêlos nas narinas e uma ruga única na testa, por certo que não me tardo a perder uns cabelos.

A vida toda vivi com gente mais velha que eu. Assim, nunca tive muita amizade, nem com meus primos, os quais eu via muito pouco, nem com meus tios, e nem com colegas de trabalho, para me sentir velho como eles, ou sob a proteção de pessoas mais velhas; tampouco me sentia confortável com os de minha idade, na escola, viva meio período com suas brincadeiras e o dia todo com as dos adultos, estas sim, muito mais maldosas e divertidas. Por isso não sei bem a que associo a idade, e os pêlos me parecem tão somente trazê-la, sem com ela trazer nenhum significado especial. Não a associo à responsabilidade, mas esta à necessidade; nem com maturidade, que para mim é como a clareza das crianças; nem com imaturidade, que é a dureza: fruto da experiência. Não sei se é a idade quem traz a experiência, ou a experiência quem traz a idade; mas, visto que o tempo passa, acho difícil evitar que venham as duas, talvez a experiência, mas nunca a idade.

(inverno, 2007)