quarta-feira, março 26, 2008

Menina









"Tristeza não tem fim
Felicidade sim"

Menina, estão os olhos a marejar?
O doce nos contornos de tua face
Que pacifica a quem te olhar ousasse
Não combina com o salgado mar.


Menina, por que procuras arquejar
Tuas costas aos desconcertos do mundo?
Pois ainda não te conheces a fundo
Para que aos outros possas carregar.


Se quando olhas para o horizonte
E nada vê ali de muito profundo
É, pois, preciso andar além dos montes.


Se cruzares ao acaso um vagabundo
Faz proveito e aprende com a fonte

Como se alegrar diante de um céu imundo.

Beleza

A beleza que reside em ti
não é beleza pura e simples
como um crepúsculo
um bosque
ou um corpo delgado.

Mas é de fineza e verdade tal
como a dor que se sente no tapa
É imperfeita e tortuosa
Vem de obesidade mórbida
e anorexia
de sardas
e cicatrizes profundas
de olheiras
e estrabismo.

A beleza dentro e fora de ti
não é um conceito universal
que reside na ponta de um iceberg
sequer é extremo em oposições binárias.

Consiste na possibilidade que me apraz
de se ter o que moldar e arrumar
(mesmo sabendo que não funcionará)
na imperfeição que te domina.

sábado, março 22, 2008

sexta-feira, março 07, 2008

bukowski, charles. huh?, 1985

ahn?

é
difícil
julgar
um
gênio
por
traição
então
você
o
chama
de louco
e
gerações
de
acadêmicos
escreverão
toneladas
de
páginas

dar
suas
vidas
em
uma
tentativa
de
decifrar
o que
ele
disse

que
foi:

bukowski, charles. self-edit, 1985

auto-edição

com muitos dos poemas
que você escreveu
você precisa aprender a

pegá-los em ambas
as mãos

amassar e estraçalá-
los
juntos

jogá-los na
cesta de lio....


Eu acabo de fazer isso
com quatro poemas (?)
e sinto-me profundamente
limpo e
em
paz.

esta máquina de escrever
dá defeitos
às
vezes.

fico satisfeito por
ser capaz de
reconhecer
isto.

melhor eu descobrir isso
do que
você.

conto de ninar (bukowski, charles. bedtime story, 1992)

conto de ninar

mentira, disse a lesma.
enorme, disse o cágado.
não importa, disse o tigre.
obedeça-me, disse o pai.
obedeça-me, disse o país.
veja-me subindo, disse a samambaia.
isso não importa, disse o tigre.
mentira, disse a lesma.
enorme, disse o cágado.
vou correr, disse o rato
não importa, disse o gato.
vou voar, disse o pardal.
não importa, disse o gato.
obedeça-nos, disse o pai e
o país.
calem-se todos! rugiu o tigre.

a noite caiu.
as luzes se apagaram
e as cidades
arderam em chamas

agora, vá
dormir.

uma questão (bukowski, charles. a question, 1990)

uma questão


dizem que
quando J.D.Salinger encontrou
Ernest Hemingway
nada
inesperado
aconteceu.

foi um
encontro
cordial.

às vezes escritores
podem ser
absolutamente
normais,
até mesmo
gentis.

Nunca encontrei
nenhum
desse
jeito
mas
tenho certeza
que existem

não
existem?

domingo, março 02, 2008

o grande escritor (bukowski, charles. the great writer, 1992)

o grande escritor

eu pensei que tivesse desenvolvido uma esplêndida
misantropia
e tivesse alcançado um profundo
isolamento da humanidade
na parte tardia de sua vida,
eu descobri
em alguma leitura esta noite
que suas mãos tremiam tão
gravemente
que ele simplesmente não queria ser
visto em
público.

outro herói
morto.