segunda-feira, janeiro 29, 2007

A humanidade não vive de sábios

"A pressa é inimiga da perfeição." (Rui Barbosa, Frases - pag.37)

"Se for pra serrr feliz assim, serei maluco até o fim."(Rua Campos Salles,903 -3ºandar)

A humanidade não vive de sábios

"A pressa é inimiga da perfeição." (Rui Barbosa, Frases - pag.37)

"Se for pra serrr feliz assim, serei maluco até o fim."

Suicídio

Nascera,
Um pouco vivera,
Se iludira, caipira, e viera.
Investira e perdera.
Não usufruira.
Não obtivera o que pedira.
Se abrira e desiludira, discutira,
De nada servira.
E a mentira, ouvira.
E a ira, crescera.

Agora, considera.
Pra onde a vida o conduzira,
O confundira: caíra.

Medita e conspira. (Inspira... Expira... Inspira... Expira...)

(Inspira expira inspiraexpirainspiraexpira...)

Vacila.
Transpira.
Perspira.

Suspira. Não mais importa ao que aspira.
Já não aspira a nada.
Chora.

Já decidira:
A arma retira.

Inspira expira inspira expira...
Transpira.
Delira.
Mira, na têmpora,
E atira.

O tempo pára.
É seu agora.

Não mais respira.
Do palco, se retira.
Se atira na pira,
Se expira. Partira.

Escoa...

domingo, janeiro 28, 2007

Soneca

Joaquim estava beijando apaixonado aquela por quem tinha amor eterno, mas não sabia. Não sabia porque no meio do beijo um barulho estranho batia-lhe nos ouvidos e ele abria os olhos para ver o que foi. Acontecia pelo menos uma vez por semana, mas Joaquim não se ligava nunca e abria os olhos.
Depois de abertos, seus olhos encontravam o celular vibrando na escrivaninha. Esticava o braço esquerdo buscando o aparelho, alcançava-o e pressionava o botão Soneca. Soneca era uma coisa esplêndida que alguns indíviduos preguiçosos inventaram para lembrá-lo de que ainda havia tempo. Ainda havia tempo e o dispêndio deste ficava à sua disposição. Você poderia voltar a dormir, dar uma trepadinha de dez minutos, ficar se espreguiçando, assistir o noticiário, ler as tirinhas, comer um bombom, dar aquela prazeirosa urinada matinal no inverno ou beijar apaixonado aquela por quem você tem amor eterno. O período destinado à soneca era gasto com o que se queria. Isso tornava aquele tempo ridículo de dez minutos que uma porra de aparelho eletroeletrônico lhe concedia o mais importante do dia.
Mas como desde o princípio (quando ainda era o Verbo e os substantivos nem pensavam em entrar na história) Joaquim era uma besta, seu tempo de soneca era gasto com a tentativa inútil de se lembrar o que acontecera no decorrer da noite. Joaquim não se lembrava nunca e sempre achava que nunca sonhava.

sábado, janeiro 27, 2007

A mãe vaca


Maria de Lourdes

Apesar do serviço doméstico, de lavar e passar roupas, cozinhar, lavar louças, de fazer faxina e criar os filhos, apesar de que, terminada a limpeza, já chegava no dia seguinte o momento de recomeçá-la, sim, apesar das mãos calejadas e das queimaduras de óleo quente nos antebraços, das varizes azul-celeste nas pernas de coxas grossas e quadril largo, apesar dos olhos de peixe nos pés e de uma ou outra unha encravada, e da iminente menopausa, apesar de passar por tudo isso com humor melhor que o do homem sentado à frente da tevê, era uma mulher frágil.

Não era dessas mulheres de se aventurar com homem qualquer. Tampouco de ficar muito tempo só. Chorava na juventude, e ainda hoje quando assistia a romances melosos em filmes ou novelas, ou quando o marido chegava tarde, fedendo a cigarro e cachaça barata, ainda que escondida. Antes, mandava-lhe cartas apaixonadas, em que borrifava um pouco de seu perfume barato de adolescente sonhadora, e dizia sempre que o amava ao que ele respondia com um grunhido, era mesmo apaixonada por ele. Não sabia o que faria sozinha.

Falava o tempo todo.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

minha doce velha etcetera

minha doce velha etcetera
tia lúcia durante a recente

guerra poderia e o que
é mais lhe disse
que todos estavam lutando

por,
minha irmã

isabel criava centenas
(e
centenas) de meias para não
falar camisas e aquecedores de orelha à prova de pulgas

etcetera pulseiras etcetera, minha
mãe esperava que

eu morresse etcetera
bravamente é claro meu pai costumava
ficar rouco falando sobre como era
um privilégio e se ele
pudesse enquanto isso eu

mesmo etcetera deito quieto
na funda trincheira et

cetera
(sonhando
et
cetera, com
Seu sorriso
olhos joelhos e sua Etcetera)


e.e.cummings,
traduzido pelos tigres mas tirado daqui

terça-feira, janeiro 23, 2007

O caso dos tigres tristes

Três trigres tristes no bosque,
um foi pescar e então ficaram 2,
dois trigres tristes no lago, um engoliu um arrenque defumado e então ficou um,
um trigre triste no zoologico , um urso abraçou, e então ficou nenhum.

Inspirado no caso dos 10 negrinhos. Escrito por Lucas Valle Mielke.

Maria João

Não era mulher dessas que se lamentam por aí, dessas mulherinhas fracas que tem sempre de ter um homem em quem se pendurar. Por isso mesmo se destacava perante as outras, por ser meio superior nessa dureza, de pulso mais firme que muito homem barbado, mesmo com a aparência frágil que tinha. Bebia cachaça, comia chouriço e dava tapa na cara de qualquer um, jogava baralho e xingava nome feio; era mesmo uma grande mulher.

E acho que é por isso que tinha uma mania de arrumar pra si homem que não presta; também me sentiria livre para dar umas galinhadas se fosse eu o seu homem. E, assim, arrumava uns pingaiadas assustados, desses que tem pavor de se enroscar com mulher, e ficava sofrendo por eles por um bom tempo, levava meses e meses até perceber que andava pendurada em pescoço ladino, e se valorizar um pouco. Mas também isso durava pouco.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Na toca dos tigres

Nem sei se tigre tem cova, covil, toca ou alguma coisa que se valha, mas afinal onde é este esconderijo bondoso da existência? Porque se desse modo existir, uma traça deixaria o seu estado de roedor e buscaria roer outra coisa diferente da dor e roeria insensivelmente essa existência. Não basta ser tigre, ser traça, é preciso ter toca?

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Cada rato tem um preço

Nove horas, José veste o macacão, calça as botas de borracha e instala a aparelhagem de tambores e tubos plásticos. Aciona a manivela e produz uma fumaça amarela que vai para as tocas. Os ratos correm e logo caem. Mortos. Ele recolhe num saco e vai jogar nos terrenos baldios da Várzea do Glicério. José tem uma cota diária de ratos. Ele sabe que no dia em que tiver exterminado todos os bichos, perde o emprego. Um dia, não tinha mais ratos. José foi à Várzea, pagou 50 centavos a dois moleques, cada um trouxe três ratos. Assim, José continuou trabalhando.
(Ignácio de Loyola Brandão, em Zero)

terça-feira, janeiro 16, 2007

monólogos reflexivos

[Falavam de reflexo. Lembrei do relato de um velho amigo, que segue:]

Um dia dei pra falar com o meu reflexo. Não era assim, caso de louco, apenas andava falando com meu reflexo, não falava com o espelho como diriam uns, nem sozinho, como é comum a outros, e tantos outros, diga-se de passagem, mas falava, tão somente, com o meu reflexo. Fora assim, meio que sem querer, um dia virei, olhei meio ressabiado praquele indivíduo refletido no espelho e me escapou um que foi. Claro que não tive resposta, nem é esse o ponto x da questão, é que, convenhamos, é um grande passo manter assim, nem um monólogo nem um diálogo, falar com o próprio reflexo, a própria imagem refletida por uma superfície brilhante e polida.
[...]
Mas, voltando ao que dizia, vale lembrar também que o falatório é mesmo comum mas não condiz em nada com a realidade, e, comentado ou não, falava mesmo com o reflexo, afinal, se me importasse com comentários não era com ele que eu falaria, mas com alguma pessoa qualquer, que, na ânsia de se comprovar viva, desataria a falar, como todos, disputando espaço com seu interlocutor numa conversa. É que é meio que natural, por não ser em si nem o mundo e nem os outros, mas tão somente a si mesmo, colocar todo o universo trabalhando em função disso, transformando-se no centro de tudo e todos, afinal, o mundo só se alcança pelos sentidos, já o eu por sentimento, primeiramente, e então uma quase plena consciência. Essas coisas, vim a pensar quando falava com o reflexo, que reflexo é engraçado, é só um fenômeno físico, coisa de reflexão e refração da luz, que por si, já é refletida e ou refratada pelo objeto que se reflete no espelho, imagina só o caminho que a luz faz, anos e anos viajando no espaço para então bater na atmosfera e ser refratada, bater no meu rosto e ser refletida até o espelho, quando é refletida de volta aos meus olhos, que a convertem em sinal quimio-elétrico, ou o que quer que seja, a ser transferido de ponta cabeças ao meu cérebro, que, então, a inverte, ainda é só uma imagem, e imagem não é nada, toca ao cérebro intelectualizar aquilo, de forma a eu compreender, por abstração, que aquilo é o meu reflexo, e se for um pouco mais longe, chegar, como já fiz antes, até ao sol, que, abstraído de sua beleza, só serve mesmo pra nos dar luz e calor.
O reflexo é coisa engraçada mesmo, rapaz, porque não é nada, nem existir não existe, mas, por inteligentes que somos, ora pode representar o objeto refletido, ora o espelho, ora a luz, oras, pode representar o que quer que queiramos. Mas responder não responde não, ainda bem, só fica abrindo a boca enquanto se fala, às vezes parece até ser de propósito, como quem fica a arremedar os outros por troça, mas só parece, porque sem ser um ser não pode aquilo ter vontade, não é nem ser nem nada, é só um reflexo, e por isso pode ser o que quisermos.
O meu reflexo, por si só não era nada, como cabe a todo bom reflexo que se preze, mas não deixava de ser, para mim, com a qualidade que eu lhe dava de ouvinte, uma espécie abstrata de companhia. Eu o tornara quase um ser, não chegava ao ponto de torná-lo efetivamente um ser, não o transformara num amigo imaginário, já não podia eu ser uma criança inventiva, tampouco sofria de esquizofrenia, enfim, eu o tornara um reflexo ouvinte. Na verdade, melhor dizendo, o reflexo não mudara em nada, continuava com sua característica de ser luz, ou seja, de não ser, e ora representar eu mesmo, ora representar o espelho, ora um ouvinte, enfim, o que realmente mudara fora mesmo eu, que, simplesmente, me tornara um homem que falava com o reflexo. O próprio, que, como já disse, não sou homem de falar com o reflexo dos outros. Pois bem, supõe-se que não seja à toa que alguém, de repente, se atine a falar com o reflexo, com tanta gente aí em volta. Mas é que, como já disse, conversar e falar tem diferenças sutis, é coisa meio besta a diferença, é que conversamos fingindo que nos interessamos pelo assunto da outra pessoa, quando, no máximo, nos interessamos pelo interlocutor em si. O falar com o reflexo em muito difere do falar com si, desde que não se considere o reflexo como representação de si mesmo, isto é, quando se considera o reflexo como tal, como um não-ser, e ainda assim se fala com ele, esse mesmo ato de falar com uma imagem, não enquanto representação mas tão somente como luz refletida, difere do ato de fala consigo na medida em que não serve nem para demonstração de si, quanto para auto-afirmação do discurso; em suma, provavelmente serve apenas, e tão somente, para se ouvir a própria voz, dizendo qualquer coisa que não tenha efeito nenhum. A partir do momento em que se atenta às palavras, o ato torna-se de falar-se, de discursar com e para si.
Pois bem, para não me perder em conjecturas baratas, no prazer auto-afirmativo do discurso, e depois não mais conseguir alcançar o fio da meada, voltemos à narrativa. Dizia eu que em dado momento de minha vida dei pra falar com meu reflexo. E isso ia muito bem, já se vê que não vai mais, usando esse verbo em tal conjugação, ao invés de vai, disse que ia, quando na verdade, dado o tempo que durou tal atividade e visto que, como já se notou, não é mais praticada no presente, o mais indicado à utilização seria foi, pois bem, foi então, e isso foi muito bem, soa esquisito, mas vamos por esse caminho: isso tudo foi muito bem por um bom tempo, até que em dado momento quebrou-se o espelho do banheiro contíguo ao humilde quarto em que eu morava. Dizer quebrou-se é força de expressão, pois, mesmo que de vidro, que é frágil por ser ductilíssimo, um espelho não é coisa que sofre lá muitos baques, é coisa bem construída, e mesmo que frágil, bastante forte, diga-se de passagem, e, assim, pode durar muitos e muitos anos pendurado numa parede qualquer, sem que ninguém lho mexa por má intenção ou mesmo por desproposital estabanamento. Quebrou-se o espelho porque fazia as vezes de porta a um armarinho de banheiro, desses armarinhos em que se põe escova e pasta-de-dentes, pentes, escovas, fios-dentais, cotonetes, barbeadores, cremes-de-barbear, loções pós-barba, cremes pra pele, perfumes e até às vezes alguns remédios mais comumente utilizados, entre outros objetos de higiene pessoal e produtos cosméticos. E, por fazer as vezes de porta, sabe-se bem como são as portas, era algo demasiadamente móvel, e pior, com uma mobilidade extremamente suscetível, e por que não dizer dependente, do humor do usuário; pobres os espelhos dos mais irascíveis. Não que eu seja lá uma pessoa irascível, sou até bastante calmo, mas foi exatamente num momento de descarga de ira que esse espelho quebrou-se, em que a portinhola foi fechada como se pesasse lá uns cinqüenta quilos, com uma violência totalmente desnecessária. Foi mesmo uma descarga violenta de raiva, coisa que podemos muito bem passar sem, daquelas que depois de feitas nos causam um desgosto terrível pelo arrependimento. E então, está certo, eu confesso e assumo de peito aberto, foi de raiva que quebrei o pobre e velho espelho.
Após a quebra do espelho deixei de falar com o meu reflexo, nem nunca mais o olhei de forma diferente da usual. Não deixei de ter reflexo, nem passei a encará-lo como simples representação do algo refletido, só nunca mais me importei com isso. Ainda haviam milhares de espelhos no mundo, e, de fato, após alguns meses de aperto financeiro, pude enfim trocar aquele que quebrara de forma tão estúpida, e podia muito bem ter continuado meus solilóquios acompanhado de meu reflexo. Talvez seja o fato de ter perdido meu espelho mais comum, mais rotineiro, não sei. Pode ser que deixei mesmo de falar com o reflexo por achar isso coisa de criança. Mas o que mais me incomoda hoje é uma idéia que insiste em perpassar pelo meu pensamento: talvez tenha quebrado o espelho por estar de saco cheio de falar com meu reflexo.

domingo, janeiro 14, 2007

Sem título

"O barato é 'loco'
O processo é lento
O sistema é bruto
Minha mãe é santa.

E a realidade....ah!
é gelatinosa"



("Filosofia Urbana" - Velho Deitado)

sábado, janeiro 13, 2007

Porque preciso também ser triste

Existe na tristeza
algo do reflexo e do espelho.
Esse estado traz uma influência
que permite colocar para tigres e traças
Destes todos pesares da consciência
Tristeza e contentamento das origens

Então ser triste para refletir
e ser reflexo,
de qualquer coisa,
de qualquer nada que aparenta ser
alguma coisa.

Mas na conveniência
tristeza não é sofrimento,
nem contentamento felicidade
Mas vem de todos esses recalques
o que sentimos de ser vivo

Porque eu deveria ser triste?

Porque eu deveria ser triste? Porque eu sou uma traça? Porque eu sou um tigre? Porque não tenho o que ou quem eu quero? Porque vivi e vivo tempos difíceis?
Porque eu deveria me lamentar? Porque assim as palavras são mais tocantes? Porque muitos consideram o mundo perdido? Porque não tenho amigos?
Porque eu deveria esperar mais dos outros? Porque eu dou tudo de mim? Porque eu confio neles? Porque eles deveriam ver o que está claro?
Porque eu não posso ser feliz? Porque eu coloquei a felicidade onde não posso alcançar? Porque o que eu alcanço não traz a felicidade?

Não sou triste, não sou uma traça, não sou um tigre, tenho o que e quem eu quero, vivo bons tempos. Não vou me lamentar, palavras felizes também podem tocar, não considero o mundo perdido, tenho amigos. Não esperos mais dos outros, não dou tudo de mim, confio em mim, nada está claro. Sou feliz, a felicidade sempre está ao meu alcance e tudo o que tenho me trouxe ela.
(mesmo que assim não fosse, ainda seria feliz, pois a tristeza é um estado e a felicidade um modo)

A felicidade está sempre onde a colocamos, mas muitas vezes a colocamos onde não estamos!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Para se ler ainda jovem pt.2

Sei que amar
é mais simples que parece.
Dizem que é pra sempre:
não é para tanto.
Mas, tampouco,
é o instante,
(um momento, por favor).
Não deve ser coisa que dê medo;
é um medo
ao contrário,
como um medo de nada
sem que o nada esteja presente.
É medo porque é um tremor.
É esta a definição!
O amor sensível, este sim existe
não aquele amor sublime
de poema, ou de filme.

É, no fundo,
um tremor lá no estômago
e não no coração.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Para se ler ainda jovem

Quando eu tiver meus sessenta e cinco anos
E, por tua culpa, for um velho rabugento e mal-humorado
Quero te encontrar ao acaso pelas ruas
Com o corpo coberto de mágoas e futuros-do-pretérito
E dizer-te o seguinte:

“Agora vês?
Então, da próxima vez que eu te falar
Que o amanhã não existe
E olhar-te com a feição de um cachorro molhado
Cale a minha boca e beije-me com amor
Assim entre nós não haverão apenas arrependimentos!
Mas agora, a vida que deveria ter sido
Já foi há muito.”

Aposto que tu me olharias chateada
Eu faria uns resmungos sobre o clima quente
E cada um seguiria o fim de seu caminho.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

E agora, tanto faz estar aqui, esperando, a olhar a colina.
É tão bela.

O coração grita - MENTIRA!

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
(Eduardo Alves da Costa, em No Caminho, com Maiakovski)

sábado, janeiro 06, 2007

Zero

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos

("O poema pouco original do medo", Alexandre O'Neill)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Pan 2007, no Rio - será que isso dá certo?


Ano passado foi a Copa. Na Alemanha. E mesmo assim teve seu "stress".
Fico a imaginar como será esse Pan do Brasil.
É o Rio de Janeiro, Fevereiro e Março. Mas o Pan é em julho.
Faltam 189 dias, conforme página oficial do evento.
Coisa chique mesmo. Precisa de infra-estrutura. Os olhos do mundo estarão voltados para as terras Sur Americanas.
Mas não era só isso que eu imaginava. Há muitos dias que venho pensando no que findará este projeto.
Quantas pessoas estão envolvidas nisso. Pessoas organizando, outras pondo a "mão-na-massa" e os atletas se esforçando para darem o melhor de si e serem lembrados por alguns meses como heróis nacionais.
Ainda assim, isso foi só o começo do que eu imaginei. No Rio há uma violência tremenda. Morros dominados pelo tráfico. Bala perdida. Chacinas. E agora ataques do CV. E a pergunta que fica é: "Pan 2007, no Rio, será que isso dá certo?".
Lembrando que o Brasil vai concorrer a sede da Copa de 2014. E a Fifa já confirmou que vai ser na América do Sul. A Argentina já está fora.

CONHEÇA A HISTÓRIA DA CAMISINHA!

A história é muito mais antiga do que se pensa – afinal, desde muito cedo, homens e mulheres descobriram que a atividade sexual trazia alguns inconvenientes, como a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis.
Há mais de 3.000 anos, a arte egípcia já mostrava figura de homens com algum tipo de envoltório no pênis. Há quem fale de peles de animais, mas não se sabe de que material eram feitos. Na Europa, as primeiras evidências do uso da camisinha são pinturas nas cavernas de Combarelles, na França.
A origem histórica da camisinha foi em 1.500, quando o anatomista italiano Gabrielle Fallopius inventou uma espécie de "saco de linho" para proteger seus pacientes da sífilis. Como o método inventado por ele funcionou, e as pessoas perceberam a possibilidade de usar a camisinha para evitar a gravidez, seu uso se popularizou e cresceu muito por volta do ano de 1.700, quando as camisinhas passaram a ser feitas de um material mais fino: membranas de intestino de carneiro.
Mas foi em 1843, quando o revolucionário processo de vulcanização da borracha, inventado por Hancock e Goodyear, possibilitou a produção em massa de preservativos, que eles se tornaram realmente mais populares e baratos. Até o legendário amante Casanova foi adepto dessas camisinhas. Em 1930, o látex líquido substituiu a borracha, e ainda é o material mais usado na fabricação de camisinhas.
Nos anos 90, as novas tecnologias possibilitaram a produção de camisinhas cada vez mais sofisticadas, como as de poliuretano, mais finas e sensíveis.

E dizem que é pecado usar...

Colaborou para este post Kleiton do Amaral Rodrigues

quinta-feira, janeiro 04, 2007

O tempo das gavetas

O tempo cresce e sobra se falta preenchimento. Se uma traça pega a cair em palavra, não há papel que basta para correr. Sóbria como quem se prepara para o descanso, uma traça coloca na comparação uma simples gaveta, que recebe importância pela mesma causa interna do tempo, o preenchimento. No caso de traça, dentro ficam os papéis avulsos, picados, órfãos de autoria, esfarelando a sobra do tempo. Se ao menos as traças fossem menos traiçoeiras e mais tristes como os tigres, o vazio não seria algo muito sério, porque no final, quando a sobra já estiver no esgotamento, era só propor Lamartine em uma pedra simples, sobre um gramado curto e verde breve. Talvez para dissimular tristeza. “Deus, amor e poesia são as únicas palavras que gostaria de escrever na minha lápide, se eu merecer uma lápide”.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

novo ano

Pensei que fosse começar o ano de cabelo curto, barba feita e unhas cortadas. Qual o quê! Quanto mais tempo se tem, menos se usa. Cheguei ao fim das festas no mesmo estado de antes, só que barba cabelo e unha são coisas que não param de crescer, pelo que eu sei cabelo e unha crescem até em morto, não sei bem barba, mas a minha, mesmo vivo, não cresce lá muita coisa. E assim surgi no novo ano, de barba, cabelo desgrenhado, as unhas eu cortei que aí já é mesmo vergonhoso, os olhos fundos de quem não se acostumou à cama, a preguiça com que se sai das férias... É, ano é coisa que nem acaba e logo já vem outro atrás, na seqüência mesmo, nem bem nos despedimos do velho e já tem um novo nos obrigando a escrever as datas diferente, a começar tudo de novo, não deixa nem mesmo mudar a estação.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Das construções

Uma parede é a mesma parede
Feito o concreto,

sobem os tijolos
A poesia está em outra arquitetura
Pinte a linha
Até com a mesma tinta,
Seo Poeta!
Mas veja que debaixo

Está a sereníssima cadeira...

Lógica

2007 está para 2006 assim como 1° de janeiro está para 31 de dezembro.
Nenhum salto tão grande que não possa ser desafiado.
Nenhuma mudança tão drástica a não ser pelo último dígito do calendário.