quinta-feira, março 01, 2007

Os passos da menina apertaram-se. Hoje escurecera cedo.
Pela manhã a garota se vestira com uma malha de ginástica e pusera seu boné cor de rosa na cabeça.
Estava pronta, com sua bicicleta nos braços esperando pelo pai. Ouviu uma buzina. Espiou pela janela da sala num pulo, despediu-se da mãe. Seu pai havia chegado. Os dois tinham combinado um passeio no parque. O homem, que já beirava os 40, não acreditava como sua menininha estava se tornando uma bela moça. "Treze anos". Os cabelos bem compridos e amarrados pelo vão do boné, já não eram os mesmos que o pai costumava acariciar, no colo, anos atrás.
Desde que se separaram, o pai via esses momentos de prazer e diversão ao lado da menina rerearem-se com o passar dos dias.
Àquela manhã foi inesquecível. E o almoço foi o momento onde colocaram o papo em dia. Para orgulho do pai, a menina ia muito bem na escola. Fora chamada até mesmo para presidir um grupo de estudos. Hoje haveria uma das reuniões, na casa de uma das colegas.
O pai não pudera esconder que ficara chateado, mas entendia que alguns compromissos só deixavam a filha mais responsável e preparada para as dificuldades da vida.
Depois daquele almoço, onde abrira mão de encontrar-se com a filha, o pai levou-a ao prédio onde morava a colega. Despediram-se com um beijo doce, como só havia entre um pai e sua filha.
Os passos da menina apertaram-se. Hoje escurecera mais cedo.
Atrás dela, andava um homem, que jamais fora pai nem tivera um. Alguém que sequer imaginou o tamanho da dor que causou e outro pai, aquele que andou no parque, almoçou e beijou sua filha pela última vez naquele dia.

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