segunda-feira, fevereiro 12, 2007

como pode?

Mas como pode um ser humano sentir-se só no meio de um mundo desses? - era o que se perguntava. Mas antes, levantara-se naquele dia comum como qualquer dia de seu cotidiano repetitivo e rotineiro de forma preguiçosa e mal-humorada, mijara, lavara-se, vestira-se, partira-se, balbuciando ofensas impronunciáveis num texto deste tipo de circulação, enfim, não deixava de cumprir seu procedimento operacional padrão de acordar. O dia nascera semi-banal, desses que prometem não prover o cotidiano de absolutamente nada diferente que possa atrapalhar essa maravilha da sabedoria humana a que se convencionou chamar de rotina. Mas como dizíamos, teve inclusive seu costumeiro devaneio sonífero em pleno ônibus atrapalhado por uma pequena confusão entre sonolentos senhores e garotos empolgados, e não pôde completar o raciocínio e entender como podia um ser humano sentir-se só naquele tipo de situação: encontrava-se dentro de um meio de transporte coletivo lotado, o que aproximava muito as pessoas, até demais, arriscar-se-ia a dizer, e que além de tudo, viajavam seguindo um objetivo comum, mesmo que não fossem ao mesmo lugar, ou em busca da mesma quantia, todos ali compartilhavam do âmbito comum de comparecer como era dever de cada um ao seu emprego ou qualquer outra forma de ganha-pão que se freqüentasse por aquelas paradas, e pertenciam mais ou menos à mesma classe social. Todos ali eram, portanto, companheiros em potencial, possíveis amigos até, e alguns expoentes de simpatia extremamente desenvolvida realmente demonstravam ser isso uma verdade, mas ainda assim uma barreira mística os impedia de se relacionar, como se a vida comum fosse apenas um desvio de caminho a que todos infelizmente eram obrigados a se sujeitar, como se as pessoas às suas voltas fossem apenas companhias descartáveis que forneciam uma pseudo-confortável sensação de união. E como podia um ser humano sentir-se só? Não sabia.

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