domingo, abril 13, 2008

eu e Faulkner (bukowski, charles. me and Faulkner. Third Lung Review, 1992 [http://bukowski.net/poems/faulkner.php])

eu e Faulkner


claro, eu sei que está cansado de ouvir isso, mas
a maioria repete o mesmo tema muitas vezes, é como
se eles estivessem tentando refinar o que parece tão estranho
e distante e importante para eles, isso é feito por todo mundo
porque todo mundo é de uma diferente classe e forma
e cada um precisa concluir o que vem antes deles
repetidamente porque
esse é seu minúsculo milagre pessoal
seu bocado de sorte

como agora e como antes eu estive lentamente
bebendo este fino vinho tinto e ouvindo a sinfonias após
sinfonias neste rádio preto à minha esquerda

algumas sinfonias lembram-me de certas cidades e certos quartos,
fazem-me entender que certas pessoas agora mortas há muito tempo eram capazes de
violar cemitérios

e armadilhas e jaulas e ossos e pernas

pessoas que romperam com a alegria e a loucura e com
insuperável força

em minúsculos quartos alugados fui surpreendido por milagres

e mesmo agora após décadas de escuta eu ainda sou capaz de ouvir
um novo trabalho nunca antes ouvido que é totalmente
brilhante, um fresco sol incandescente

há incontáveis substratos de nascente surpresa do
firmamento humano

a música possui um fluxo expansivo e infinito de profana
exploração

escritores são confinados aos limites da visão e dos sentimentos sobre a
página enquanto músicos saltam na imensidão irrestrita

agora é só o velho Tchaikowski lamentando e reclamando do seu
jeito através da sinfonia #5
mas é tão bom quanto da primeira vez em que a ouvi

não tenho escutado um de meus favoritos, Eric Coates, por um bom tempo
mas sei que se continuar bebendo o bom tinto e ouvindo,
que ele estará junto

há outros, muitos outros

e então
este é só mais um poema sobre beber e ouvir
música

repetido, certo?

mas olhe para Faulkner, ele não disse apenas a mesma coisa
repetidamente mas disse o mesmo
lugar

então, por favor, deixe-me engrandecer estes gigantes de nossas vidas
mais uma vez: os compositores clássicos de nossos tempos e
do passado

isso manteve a corda longe do meu pescoço

talvez afrouxe
a de vocês

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