quinta-feira, janeiro 04, 2007

O tempo das gavetas

O tempo cresce e sobra se falta preenchimento. Se uma traça pega a cair em palavra, não há papel que basta para correr. Sóbria como quem se prepara para o descanso, uma traça coloca na comparação uma simples gaveta, que recebe importância pela mesma causa interna do tempo, o preenchimento. No caso de traça, dentro ficam os papéis avulsos, picados, órfãos de autoria, esfarelando a sobra do tempo. Se ao menos as traças fossem menos traiçoeiras e mais tristes como os tigres, o vazio não seria algo muito sério, porque no final, quando a sobra já estiver no esgotamento, era só propor Lamartine em uma pedra simples, sobre um gramado curto e verde breve. Talvez para dissimular tristeza. “Deus, amor e poesia são as únicas palavras que gostaria de escrever na minha lápide, se eu merecer uma lápide”.

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