quinta-feira, dezembro 28, 2006

Apontamentos

Apontei os lápis do estojo. Meu último texto precisou de muitas pontas esfarelando no papel e quase não tomei conta disso. Dos traços, um desânimo ao terminar a única página me fez pensar que esses tracejados seriam os últimos no caderno de artística. Toda imprecisão estranha balançou as minhas extremidades, mas não seria bem uma tristeza, o que apresentaria mais nítido e simples para desaparecer. Quando os sentimentos já não transmitem sentidos e flutuam como fantasmas, os pés não encontram o chão, as mãos tocam desesperadamente a atmosfera e os olhos, os olhos não são mais do que vidros, como Pessoa na pessoa de Caeiro, “rindo como quem tem chorado muito, quase alegre como quem se cansa de estar triste”. Os sonhos de uma traça são lentos e atravessam o livro na corrosão, das páginas que correm dentro de um inseto ou dentro do nada, quando quem aponta o lápis como apontador.

Nenhum comentário: