sábado, dezembro 23, 2006

Retravando o trava-línguas

De modo geral, ao menos de acordo com o senso comum, tigre não é jaguar; pode ser que aos argentinos, que chamam onça jaguar, tigre também o seja, e, assim, tigre e onça seriam sinônimos, o que, ao ver platino, faz dele um jaguar. Mas falar em tigres por estas bandas soa um tanto quanto deslocado, visto que por aqui, naturalmente, não os há, o que fará de Borges uma referência a ser seguida e que se entenda, então, a partir daqui, por tigre o jaguar, e a onça, a que sou mais afim, ou mesmo um gato, um lince, um felino qualquer, ou qualquer outro bicho; isso porque o mundo dito nos fica a mercê, e pode-se fazer comparações as mais absurdas, e mesmo igualar termos que obviamente não são iguais.
Tigre não é onça, é tigre, assim como tristeza não é melancolia; as coisas podem ser parecidas mas não as mesmas. É óbvio que se deixássemos as línguas ao jugo dos poetas haveriam infinitas palavras para cada coisa, a fim de rimar com outras coisas que quisessem expressar num verso anterior, o que faria da tristeza, a melancolia, ou outras coisas mais, às vezes até mesmo um tigre. Mas, se seguindo neste rumo chegamos a tais comparações, poderia-se entender também os três tigres como variações de um só tigre (ou jaguar que seja), este sim, absoluto, o que os misturaria de alguma forma; assim, três tigres seriam, no fundo, um tigre três vezes, ou três vezes um tigre, uma mudança de quantias, coisa de receita.

A língua de Babel, esta só é falada por este tigre absoluto, que sente uma absoluta tristeza e come do mais puro trigo.

Nenhum comentário: